Pianista que ia a pé para as aulas por falta de dinheiro se forma na Europa e volta ao Brasil para lançar documentário da sua trajetória

  • 04/12/2025
(Foto: Reprodução)
Pianista Moisés Mattos ganha documentário sobre sua trajetória Rodeado pela musicalidade materna desde a infância, o pianista Moisés Mattos descobriu que a música seria mais do que som: seria abrigo, identidade e caminho. Hoje, aos 36 anos, o artista carrega uma trajetória de superações, descobertas e reinvenções que atravessam países. De Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, e vivendo há mais de 15 anos na Alemanha, Moisés está de volta ao Brasil, não para uma turnê, o que já seria de grande emoção, mas retorna para o lançamento de um documentário sobre a sua trajetória: 3 Atos de Moisés. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Zona da Mata no WhatsApp O longa estreou nesta quinta-feira (4) e, sob direção de Eduardo Boccaletti, retrata a vida do pianista, desde a intimidade da sua infância simples, passando pela construção e consolidação da carreira na Europa, até o retorno para uma apresentação no palco mais importante da cidade natal, o histórico Cine-Theatro Central. Mas, até ser tema de documentário, o músico precisou transformar cada obstáculo em coragem e determinação para conquistar espaço na concorrida cena musical europeia. “Venho de uma família muito humilde. Então, em termos financeiros, já surgia a dificuldade com a locomoção. Sempre tive que andar muito a pé e não tinha condições de pagar o ônibus de onde morava até o local das aulas de piano”, lembrou. A música como inspiração para dias difíceis Pianista Moisés Mattos Arquivo pessoal Além das dificuldades materiais, Moisés também enfrentou racismo, bullying e diversos outros preconceitos. “Sempre fui aquele menino estranho… sofri muito preconceito, não só pela orientação sexual, mas também pela cor”, contou. Como um bálsamo, a música sempre acompanhou Moisés Mattos em vários momentos, inicialmente com a mãe, depois na igreja que a família frequentava em Juiz de Fora, e com o professor André Pires. “Na Congregação Cristã no Brasil eles dão muito valor à questão musical. A gente aprende a ler notas e faz um estudo muito legal. Minha mãe também sempre cantava em casa, então, desde muito cedo, tive esse lado musical”, disse em entrevista ao g1. Paixão pelo piano e os primeiros passos na língua alemã Pianista de Juiz de Fora Moisés Mattos Arquivo pessoal A paixão específica pelo piano, no entanto, surgiu de forma quase cinematográfica, quando, aos oito anos, ele viu pela primeira vez o pianista Vladimir Horowitz tocar na TV. O que o marcou não foi somente o artista, mas a reação da plateia e o efeito da música sobre o público. “Realmente teve uma cena muito forte, em que mostrava o público presente naquele momento, e algumas pessoas chorando, especialmente um senhor, com uma face meio rígida, mas, ao mesmo tempo, tão tocado pela poesia da música. Aquilo me deixou profundamente emocionado, e eu falei: Meu Deus, esse cara tem esse poder mágico de tocar as pessoas. Isso eu realmente quero fazer também”. O amor pela música cresceu ao longo dos anos, mas, aos 15 anos, Moisés Mattos descobriu outro fascínio: a língua alemã. O primeiro contato veio de maneira inesperada, por curiosidade. Ele trabalhava em uma fábrica de cosméticos quando notou um casal vizinho, uma alemã e um brasileiro. O que chamou a atenção do jovem mineiro não foi apenas a música que tocavam, ela ao violino e ele ao piano, mas também a sonoridade do idioma, até então desconhecido. “Fiquei encantado com como soava, com a ideia de poder se comunicar em outro idioma. Ao mesmo tempo, sentia uma certa exclusão, porque não participava das conversas”, contou. Movido por essa curiosidade, Moisés Mattos decidiu aprender alemão sozinho. Foi então que, novamente com a ajuda do primeiro professor de piano, André Pires, recebeu um método autodidata que o guiou nos estudos. Paralelamente, o interesse se aprofundou com a história da música, especialmente dos grandes compositores alemães e austríacos. Assim, ainda na adolescência, o pianista começou a se dedicar com afinco não apenas ao piano, mas também à língua que, mais tarde, definiria grande parte da vida dele na Alemanha. A migração e o primeiro choque cultural A chegada à Alemanha trouxe lições duras. Ainda nos primeiros dias, Moisés abordou uma jovem violinista na rua, e tentou o que ele chama de "um primeiro contato musical". A resposta veio como um baque: “Ela disse: ‘Eu não te conheço, não tenho interesse de saber quem você é, afaste-se’. Foi meu primeiro choque cultural", lembrou. A adaptação foi difícil, e a concorrência para ingressar nas universidades alemãs, ainda maior. Ele prestou exames em algumas instituições até ser aprovado na Universidade de Bremen para estudar o que tanto ama. Numa delas, viveu uma cena que hoje lembra com humor. Ao sair da prova inicial com o papel que confirmava a aprovação para a segunda etapa, abriu a porta e se deparou com uma multidão de candidatos que estava do lado de fora e havia escutado à audição. “Eles olhavam assustados e diziam: Você passou! Eu não passei! Por que não passei?. A lembrança provoca risadas, mas recorda também o clima de tensão e pressão daquele período. A língua que, no começo, o excluiu, depois abriu caminhos. Carreira na Europa e o pensamento no futuro Com a conclusão dos estudos, Moisés Mattos iniciou a carreira como solista, apresentou-se em salas de concerto prestigiadas e consolidou o nome em diversos países europeus. “Sou uma pessoa muito romântica, gosto muito do romantismo, um período que me toca muito. Exatamente por isso, para poder tocar nas pessoas, ter essa sensibilidade de tocar de maneira profunda [...] Gosto muito de Brahms, Schubert, Beethoven, obviamente, mas Rachmaninoff também. É difícil poder selecionar só um deles, mas, sem dúvidas, do período romântico, Chopin, obviamente. Então, é complicado selecionar só um”, disse. O tempo passou, e, após superar várias dificuldades e percorrer um longo caminho, hoje, aos 36 anos, ainda na Alemanha, ele começa a pensar no futuro. “Hoje em dia, meu trabalho está mais voltado para dar aulas, que é, digamos, o meu ganha-pão. Com a grande responsabilidade que tenho com a minha família, procuro ajudá-la da melhor forma possível. De certa forma, isso me bloqueia e impede que eu estude como gostaria, por causa das responsabilidades de tentar ajudar”. 3 Atos de Moisés Moisés Mattos; pianista ganha documentário; Juiz de Fora Arquivo pessoal A arte que levou Moisés Mattos do interior de Minas Gerais para os palcos da Europa, e o fez ser respeitado como pianista, agora também vai retratar no cinema a trajetória de vida dele. O longa-metragem do diretor Eduardo Boccaletti, 3 Atos de Moisés, estreou nos cinemas nesta quinta-feira (4). O longa é estruturado em três momentos decisivos da vida do pianista: Início em Juiz de Fora – O retrato íntimo da infância simples, do primeiro contato com a música e das barreiras sociais que quase o afastaram dos sonhos. Formação e carreira na Alemanha – Já em Bremen, Moisés se forma na universidade local, aprende seis novos idiomas e inicia carreira como solista. O retorno para casa – Após mais de 15 anos no exterior, o pianista volta para se apresentar no histórico Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora. “Essa trajetória de revisitar todo o meu passado vejo, na verdade, como uma terapia, né? Até mesmo para entender um pouco dessa história, como foi, porque às vezes vivemos o cotidiano e, por questões de sobrevivência, não temos consciência do que realmente vivemos, né? Uma das perguntas talvez mais fortes, que realmente me emocionou no filme, foi, inclusive, no final das gravações: se eu pudesse encontrar o Moisés pequeno, uma criança, que conselho eu daria a ele?", disse. Entre barreiras e preconceitos, Moisés Mattos permanece fiel à música, amor que nasceu na infância e nunca deixou de ecoar na vida. Em Juiz de Fora o documentário está em cartaz no Cinemais Jardim Norte. LEIA TAMBÉM: Conheça Luciana Sagioro, bailarina considerada fenômeno da dança e primeira brasileira a integrar a Ópera de Paris Conservatório de Música de Juiz de Fora completa 70 anos; prédio que foi cadeia hoje recebe 3.500 alunos Documentário sobre pianista de Juiz de Fora estreia nesta quinta-feira VÍDEOS: veja tudo sobre a Zona da Mata e Campos das Vertentes

FONTE: https://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/2025/12/04/pianista-que-ia-a-pe-para-as-aulas-por-falta-de-dinheiro-se-forma-na-europa-e-volta-ao-brasil-para-lancar-documentario-da-sua-trajetoria.ghtml


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